quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A VOCAÇÃO = O CHAMADO


VOCAÇÃO: O CHAMADO

Vocação tem origem no verbo latino “vocare”, que significa “chamar”. Isto dignifica que vocação trata-se de um CHAMADO. Alguém chama alguém e quando se chama o faz para alguma coisa, para executar algo, para realizar uma obra. Vocação não é uma carreira nem uma profissão no sentido convencional da palavra.
Trata-se de um chamado de Deus mesmo, portanto é uma questão de OUVIR esse chamado para discernir qual é aquela única coisa que Ele tem em mente para a sua vida.
Shemá Israel (em hebráico שמע ישראל; ((ouça ou ouve Israel") são as duas primeiras palavras da seção da Torá que constitui a profissão de fé central do monoteísmo judáico, como primeiríssima lei de Deus: OUVE Ó ISRAEL! Ouve para “escutar” o chamado; ouve para poder responder.
SHEMÁ-ISRAEL  =  OUVE Ó ISRAEL
Amarás o Eterno, Teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estas coisas que eu te ordeno no dia de hoje estarão sobre o teu coração. Assim ensinarás diligentemente aos teus filhos e falarás delas quando estejas sentado em tua casa e quando andes no caminho, ao deitar e ao levantar.”
Como o discernimento está vinculado ao OUVIR o chamado, podemos de imediato entender que o curso existencial trata-se verdadeiramente de um constante drama vocacional, ou seja, a existência se desenvolve como uma peça vocacional que se realiza em atos ou acontecimentos. Vivenciar esta existência como um drama vocacional é viver uma vida estimulante, sempre em busca de nossas expectativas e sonhos.

É a maior aventura humana!

Deus pode tornar possível em nossa vida.

Nessa ótica podemos considerar que tudo tem um propósito nessa caminhada existencial, mesmo aqueles fatos que nos parecem casuais ou acidentais. Nada em nossa vida é uma coincidência. O que pode parecer uma coincidência, trata-se, na verdade, de uma ação da providência divina que ainda não entendemos. Se olharmos nesse sentido aprenderemos a vivenciar nossa expectativa sem nunca cairmos na tentação do tédio, sentimento que sufoca a alegria de viver.

Não devemos jamais nos contentar com nada menos do que a nobreza espiritual e moral que a graça de Deus pode tornar possível em nossa vida.

Nunca se contente em ser menos do que o ser humano nobre, líder e exemplo que você pode ser.
Nunca você terá razão para baixar o nível de expectativa em sua existencial vivenciada.
O Cristão chama essa nobreza de SANTIDADE!

PARA TUDO HÁ UM PROPÓSITO
Todos os fatos e acontecimentos têm um propósito, mesmo aqueles que parecem casuais ou acidentais. Nada em nossa vida trata-se de uma coincidência . O que pode parecer como algo definido por coincidência é, na verdade, um aspecto da Divina Providência que ainda não entendemos.
Se aprendemos a olhar para a nossa vida desse  modo, nunca sucumbiremos à mais mortal das tentações– o tédio.
Não há coincidência na vida!
Muitas vezes nos surpreendemos com algum fato, ventura, descoberta, encontro, presente, reencontro ou oportunidade, de modo tão perfeito e conectado que de imediato definimos: “Mas que coincidência”!

O acaso não existe e as “coincidências” nada mais são “desculpas” das quais os céticos fazem uso para justificar o que não conseguem explicar pelos limitados recursos do logos da razão.

Todas as situações pelas quais nós passamos, desde as mais simples às mais complexas, fazem parte de um plano, de um pensamento, de um desígnio, sabiamente elaborado pelo Criador. Tudo terá a intervenção da Providência Divina, que nem sempre entenderemos.

Em Provérbios 16,9 lemos:
"Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos" .

Deus também declara em Jeremias 29.11:
"Porque sou Eu que conheço os planos que tenho para vocês… planos de faze-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro". 

Se você passa pelo processo de implementação de mudanças ou novos planos envolvendo sua profissão, carreira ou família, permita que Deus faça parte de sua estratégia. Através da oração você pode ser conduzido ao ponto exato que precisa estar para atingir seus objetivos, talvez de um modo que exceda suas maiores expectativas.

Efésios 3,20 nos dá a certeza de que Deus "é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos".

Como num quebra-cabeca, em que as partes se juntam fazendo com que a figura se mostre completa, desenhando por fim uma imagem que não se resolve há tempo. Apenas num rápido piscar de olhos tudo se modifica numa resposta que vem, talvez, depois de uma longa e penosa espera. Às vezes, porém, podem ocorrer situações extremamente negativas, que causam um corte na vida do ser humano, expressando grande tristeza e dor.
Coincidências podem também apresentar uma face negativa, de dor ou perda, como alguém estar numa esquina, esperando tranquilamente para atravessar a rua e, naquele exato momento, ser pego por um veículo desgovernado, perdendo a vida ou ficando com sequelas insuperáveis.
Um segundo antes ou depois, o acidente não teria acontecido.
Ou na experiência do falecimento de um ente querido. Difícil encontrar alguma bênção nesta hora. As vezes espera-se anos para poder-se entender o bem que daí surge.

Perder na rua o dinheiro economizado para fazer um importante pagamento, sem ter condições de repô-lo; sair cedo de casa e, por causa de um acidente inesperado, causador de grande congestionamento, não conseguir chegar a tempo na última entrevista de seleção de emprego, afastando qualquer chance de contratação; falar mal de uma pessoa e ela ser justamente a mãe do diretor da empresa; ser vítima de uma bala perdida; são circunstâncias nefastas, que muitas vezes concorrem para atrapalhar projetos importantes e vitais na experiência do ser humano, podendo até causar sua morte.
Tendo uma visão abrangente dos fatos aqui exemplificados, é possível arriscar a opinião de que coincidências não existem, pois parece que, por trás da aparente desorganização da vida, o ser humano se depara com uma grande sincronicidade: cada coisa está em seu lugar e, por isso, nada acontece por acaso, embora não se consiga, algumas vezes, perceber claramente os vínculos que motivam e unem circunstâncias aparentemente díspares e imotivadas.

Alguns acreditam num destino previamente determinado, que leva a pessoa a vivenciar aquilo a que se dá o nome, algo vago e impreciso, de coincidência.

Eu prefiro admitir que quando qualquer coincidência - positiva ou negativa - acontece, é porque Deus está presente. Assim, se você precisa muito que algo de bom aconteça, ou se deseja se proteger de algum mal que sua intuição aponte como risco, você deve se dirigir a Ele. Pedir Sua presença é a única forma de trazer fatos positivos para sua vida, ou evitar grandes males e desgraças. Nessa ótica pode-se antever o positivo que possa ocorrer, mesmo nos acontecimentos negativos.

Confie na sua capacidade, na sua inteligência e peça a Deus que todas as “coincidências” venham a ser positivas para você.

Tenha a certeza de que tudo correrá para o bem.

Nada é Coincidência tudo é Providência...

 Nada acontece por acaso, não existem coincidências. Tudo acontece por um motivo, um propósito bem maior do que imaginamos. Muitas vezes não entendemos porque algumas coisas acontecem. Então, logo nos revoltamos com a vida, com Deus e com todos. Porém o motivo de tudo que acontece nas nossas vidas está  no plano de Deus para nós, que não pode ser lido, compreendido ou entendido, apenas vivido, intensamente. (continua).








domingo, 9 de julho de 2017

PÁSCOA DO SENHOR (continuação) -
O ANÚNCIO DA TRAIÇÃO DE JUDAS
Mc 14, 18-21; Mt 26, 21-25; Lc 22, 21-23;
Jo 13, 21-30

Foi algo tão evidente que aparece registrado nos quatro Evangelhos, entretanto em João é enriquecido com detalhes que lhe são próprios.

A TRADIÇÃO DE MARCOS E MATEOS
Mc 14, 18-21; Mt 26, 21-25

O relato do anúncio da traição, provavelmente foi, em um momento da tradição evangélica, a continuação de um ciclo que contava com a ação traidora de Judas.

Ora, dali a dois dias seria a festa da Páscoa e dos grãos (pães) Ázimos; e os sumos-sacerdotes e os escribas buscavam algum meio de prender Jesus à traição para mata-lo. Mas não durante a festa, diziam eles, para não haver talvez algum tumulto entre o povo. ... Judas Iscariotes, um dos Doze, foi avistar-se com os sumos-sacerdotes para lhes entregar Jesus. A esta notícia, eles alegram-se e prometem dar-lhes dinheiro. E ele buscava ocasião oportuna para o entregar”. (Mc 14, 1-2. 10-11. 17-21).

Esta redação divide esse acontecimento, introduzindo a recordação da unção em Betânia e a preparação da ceia pascal.

“Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Quando ele se pôs a mesa, entrou uma mulher trazendo um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço e, quebrando o vaso, derramou-lho sobe a cabeça.
Alguns, porém, ficaram indignados e disseram entre si: - ‘Por que este desperdício de bálsamo? Poder-se-ia tê-lo vendido por mais de trezentos denários, e os dar aos pobres’. E irritavam-se contra ela. Mas Jesus disse-lhes: ‘- Deixai-a. Por que a molestais? Ela me fez uma boa obra. Vós sempre tendes convosco os pobres e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes o bem; mas a mim não me tendes sempre. Ela fez o que pode: - embalsamou-me antecipadamente o corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: - onde quer que for pregado em todo o mundo o Evangelho, será contado para sua memoria o que ela fez”. (Mc 14, 3-9).

“Enquanto estavam sentados à mesa e comiam, Jesus disse: - ‘Em verdade vos digo- um de vós que come comigo me há de entregar’. Começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe, um após o outro: - ‘Por ventura sou eu?’ Respondeu-lhes ele: ‘É um dos Doze, que se serve comigo do mesmo prato. O Filho do homem vai, segundo o que dele está escrito, mas aí daquele homem por quem o Filho do homem for traído! Melhor lhe seria que nunca tivesse nascido ...”

À mesa, portanto, Jesus e os Doze, para celebrar a CEIA DA PÁSCOA, conforme as Escrituras.
Jesus conhece a decisão de Judas em traí-lo e a manifesta publicamente, sem, entretanto revelar o seu nome. A linguagem utilizada por Jesus, velada quanto à identificação de quem iria lhe trair, passa, entretanto, a ser um convite antecipado e uma oportunidade última para que Judas refletisse sobre a sua determinação. O refletir é, sempre, um chamado ao ouvir Deus, que não cessa de falar, enquanto se aproxima.
Essa revelação de Jesus suscitou uma profunda tristeza e consternação entre os discípulos. Como cita este texto, “Com profunda aflição (tristeza)...”, ou seja, uma enorme tristeza, profunda tristeza, ou “começaram a entristecer-se”. No original grego está “muitíssimo contristado”.
Quando todos começam a se perguntarem quem seria, com a frase indicativa: -“Por acaso serei eu, Senhor?” O impacto da declaração que Jesus acabara de proferir: -“Um de vós me hás de trair”, causou o sentimento de “profunda tristeza” entre os discípulos.
Frente às perguntas dos seus discípulos, Jesus responde, como que apontando quem seria: -“Aquele que pôs comigo a mão no prato, esse me trairá”, (Mc 26, 23); “É um dos Doze, que se serve comigo no mesmo prato”,(Mc 14, 20

Embora Marcos não ter apontado alguém em particular, sublinha a importância do ato, já que o traidor se atreve a comer do mesmo prato. O prato continha, possivelmente o JOROSET ou CHAROSET, (uma pasta de maçã, castanha, canela, vinho e mel) pois nos componentes da Ceia seria o único ingrediente que poderia ser molhado ao pão.
Deve-se observar que o JOROSET simbolizava a argamassa que o povo hebreu usava para a confecção dos tijolos utilizados nas edificações do Faraó no Egito, como trabalho escravo.

Deve-se salientar de que o gesto de Jesus para com Judas nada tem de especial, pelo menos naquele momento, pois era comum, entre os irmãos de fé, na partilha da Ceia Pascal o comer do mesmo prato. Diz-se que os discípulos não tomaram o gesto como algo específico e que revelava quem seria o traidor, embora pela narração têm-se a impressão de que foi um gesto único e revelador. Fazia parte da Ceia Pascal o partilhar da comida, principalmente do pão e o Joroset. A argamassa era algo construído por todos. Tratava-se de um trabalho de união.

“À hora de comer, Booz disse-lhe: - Vem, come tua parte do pão, e molha o teu bocado no vinagre”. (Rt 2, 14).

Jesus encerra esse momento enaltecendo um contraste entre o FILHO do homem e o traidor.

“O Filho do homem vai, segundo o que dele está escrito ...” (Mc 14, 21).

Isto quer dizer que a realidade existencial de Jesus deveria obedecer a lei natural: ocorreu a fecundação, nascimento, vida e teria que ocorrer, com certeza, a sua volta ao Pai. O “ir”, quando afirma “o Filho do homem vai”, obedece a uma determinação divina. Jesus manifesta claramente que o Filho do homem aceita livremente sua volta ao Pai, para que se cumpra a vontade de Deus para ele.
Quanto ao traidor, ouve-se uma expressão de Jesus, narrado por Marcos de uma forma até contundente:

“... mas ai daquele homem por quem o Filho do homem for traído”. (Mc 14, 21).

O “ai daquele”, sugere algo danoso, aponta uma tremenda responsabilidade, tanto que:

“Melhor lhe seria que nunca tivesse nascido...” (Mc 14, 21).

Essa expressão nada tem de reprovação ou uma maldição, e sim um grito de angústia e sentimento de misericórdia. E o “melhor seria não ter nascido”, não no sentido de uma ameaça e sim o reconhecimento triste dos atos que aconteceriam.
Judas não atuou como mero instrumento cego e material e sim, agiu com conhecimento humano e responsabilidade pessoal.
Mateus intensifica o drama, colocando nos lábios do próprio Judas:

“Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: - Mestre, serei eu? Sim, disse Jesus”. (Mt 26, 25).

NA TRADIÇÃO DE LUCAS

Lc 22, 21-13
O relato de Lucas é menos expressivo do que os anteriores.

“Entretanto, eis que a mão de quem me trai está à mesa comigo.
(v. 21).

“O Filho do homem vai, segundo o que está determinado, mais ai daquele homem por quem ele é traído”. (v. 22)

E Jesus termina descrevendo a discussão que foi suscitada entre os discípulos:

“Perguntavam então os discípulos entre si quem deles seria o que tal haverá de fazer”. (v. 23).

Esta discussão inspirou Lucas, neste momento da narração, uma postura do Mestre sobre a atitude de serviço que deve ser a característica dos que exercem o ministério da autoridade entre os discípulos de Jesus.

“Surgiu também entre eles uma discussão: - qual seria o maior”.
(v. 24).

“E Jesus disse-lhes: - ‘Os reis dos pagãos dominam como senhores, e os que exercem sobre eles autoridade chamam-se benfeitores.”
(v. 25).

“Que não seja assim entre vós; mas o que entre vós é o maior, torne-se como o último; e o que governa seja como o servo”. (v. 26).

“Pois qual é o maior: o que está sentado à mesa ou o que serve? Não é aquele que está sentado à mesa? Todavia, eu estou no meio de vós, como aquele que serve.” (v. 27).



NA TRADIÇÃO DE JOÃO
Jo 13, 21-30
Em João o acontecimento da “traição” de Judas está muito ligado ao “lava-pés”.

“Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora vós estais puros, mas nem todos! ...Não digo isso de vós todos; conheço os que escolhi, mas é preciso que se cumpra esta palavra da Escritura: - Aquele que como o pão comigo levantou contra mim o seu calcanhar.”.
 (Jo 13, 10.18).

João registra fatos, não apontados pelos outros Evangelistas, que são de suma importância tanto que engloba os capítulos 13 a 17 de seu Evangelho. Estes englobam o “LAVA-PÉS”, o “ANÚNCIO DA TRAIÇÃO DE JUDAS“ e a pregação “DAS NEGAÇÕES DE PEDRO” e dizem respeito a fatos vivenciados e registrados como uma verdadeira “antecipação” do que iria acontecer, de fato! A compreensão só será possível pela ação do Espírito.
“Dito isso, Jesus ficou perturbado (comoveu-se) em seu espírito e declarou abertamente: - em verdade, em verdade vos digo: - um de vós me há de trair! (Jo 13, 21).

Em outras duas ocasiões, Jesus se apresenta “comovido em seu espírito e em sua alma”.
Frente a morte de Lázaro seu amigo, e na entrada triunfal em Jeruzalém para a celebração da Ceia Pascal, ante a perspectiva de sua exaltação na Cruz:.

“Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito”. (Jo 11, 33).

“Presentemente, a minha alma esta perturbada. Mas que direi? ... Pai, salva-me desta hora ... Mas é exatamente para isso que vim a está hora. Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo”. (Jo 12, 27.31).

Neste momento, a comoção de Jesus é causada justamente frente a “traição” de um dos seus, “um dos Doze”. João emprega a frase, acrescentando a importância do fato: “em verdade, em verdade vos digo: - um de vós me há de trair”.

Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava”. (v. 22).

“Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus”. (v. 23).

“Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: - Diz-nos, de quem é que ele fala”. V. 24).

“Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: - Senhor, quem é?” (v. 25).

Jesus respondeu: - É aquele a quem eu der o pão embebido”. (v. 26).

João é sóbrio ao descrever o efeito que o anúncio da traição produziu em cada um dos discípulos, porém fixa a atenção em dois personagens: um discípulo anônimo, aquele que “Jesus amava” e Simão Pedro.
Embora apareça pela primeira vez no Quarto Evangelho este discípulo “que Jesus amava”, o encontramos depois, aos pés da cruz de Jesus e nos relatos sobre a ressurreição.

“Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: - Mulher, eis aí teu filho”. (Jo 19, 26).

‘Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: - Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram”. (Jo 20, 2).

“Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro:- É o Senhor! Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se às águas”. (Jo 21, 7).

“Voltando-se Pedro, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava (aquele que estivera reclinado sobre o seu peito, durante a ceia, e lhe perguntara: -Senhor, é este? Que será dele?” (Jo 21, 20).

Quem será esse personagem misterioso? Parece nos dar certeza de que pertencia aos Doze, pois foram, pelos relatos, os únicos participantes deste última ceia do Senhor.

Chegando a tarde, dirigiu-se ele para lá com os Doze”. (Mc 14, 17).

A tradição sempre indicou ser João esse discípulo. O próprio Evangelista usa esse cognome. Ele se intitula o discípulo que Jesus amava para, segundo os exegetas, no relato dos participantes da morte do Mestre, aos pés da cruz ficasse subentendido de que Jesus ao entregar sua mãe ao discípulo que amava não se referia a João especificamente, mas ao discípulo em geral. Subentende-se que o DISCÍPULO será todo aquele que crer nesse mistério! Jesus não entregou sua mãe a João, mas ao DISCIPULO QUE AMA! E esse discípulo leva-a com ele, pois ele volta-se ao discípulo (e aqui não usa a frase “que amava”), e diz, EIS AQUI A SUA MÃE!

“Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: - Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: - Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”. (Jo 19, 26-27).

Quando se dirige ao discípulo, ofertando sua mãe, não usa o cognome de o “discípulo que amava”, referindo-se, portanto, ao discípulo em geral. Completando a citação notamos que continua a ser referir ao discípulo em geral, para que este leve sua mãe para sua casa. Esta é mais uma revelação da Páscoa, com respeito à sua mãe: DEVERÁ SER LEVADA, PELO DISCÍPULO, PARA SUA CASA!. Não se entende, especificamente, que João levou Maria para sua casa, e sim O DISCÍPULO.

“Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus”. (v. 23).

Se compararmos com as seguintes citações poderemos ter uma compreensão melhor, sempre levando em consideração de que o Senhor nos chama de nosso anonimato a uma participação ativa na “Páscoa do Senhor”.
No contexto da Páscoa, o discípulo leva a mãe de Jesus consigo, “dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa”.

 A citação: Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus, encerra um sentido mais profundo. Vamos apreciar as citações:

Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim e eu em vós”.(Jo 14, 20).

“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. (Jo 15, 4-5).

“Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo coreia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim.” (Jo 17, 21-23).

“Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou”. (Jo 1, 18).

Estas citações traduzem o sentido transcendente do relacionamento com o “discípulo que Jesus amava” o qual estava “reclinado ao peito de Jesus”, pois esta relação é a expressão análoga, que Jesus tem com seu Pai.

Jesus respondeu: - É aquele a quem eu der o pão embebido”. (v. 26).

O partilhar o “pão” do mesmo prato era gesto comum entre os comensais. Entretanto, aqui significa que o “traidor” faz parte dos Doze, participa da refeição, é íntimo. Assim que Judas Iscariotis “comunga” da refeição, evade-se do local, pois:

“Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite ...” (Jo 13, 30).

Na citação anterior, o Evangelista afirma:

“Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele”.(Jo13, 27).

Interessante a figura do sair da intimidade, da proximidade tão logo Satanás ter “entrado” nele, era noite. As trevas fazem parte do caos. O não aceitar Jesus em todo seu mistério, trata-se de uma traição, pois fazemos parte da sua Aliança. Toda vez em que algum dos Doze, depositar sua confiança em alguém ou alguma coisa, promove a “traição” ao Senhor. A consequência é esta mesma: evade-se da comunhão e causa a escuridão, as trevas.

“Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação”. (1 Cor 11, 29).

“Seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus.”
(1 Co 5, 5).

O partir o pão, (comer do mesmo prato) não foi só um sinal para o discípulo, mas também uma última oportunidade para que comprovasse a comunhão e amizade com Jesus, o Cristo. O discípulo aceita a intimidade, entretanto ao invés de dar um passo atrás em seu propósito, coloca-se a mercê de Satanás, o qual lhe toma posse.

“Jesus acrescentou: - Não vos escolhi eu todos os Doze? Contudo, um de vós é um demônio”. (Jo 6, 70).

“Durante a ceia – quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes , o propósito de traí-lo”. (Jo 13, 2).

Essa é a ação satânica, comportamento do inimigo do ser humano, adversário de Jesus.


“Jesus disse-lhe então: - O que queres fazer, faze-o depressa.
 (v. 27 b).

“Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lho dissera.” (v. 28).

“Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava: - Compra aquilo de que temos necessidade para a festa. Ou:- Dá alguma coisa aos pobres”. (v. 29).

O que chama a atenção é que o “traidor” encontra-se entre os Doze e os demais nem se dão conta quem deveria ser. Quando, em uma comunidade, alguém, por exemplo, coloca a sua confiança e poder em algo ou alguém fora do mistério de Cristo, abre uma porta para a entrada de Satanás. A ação satânica leva o discípulo a sair da comunhão e provar as trevas. O resultado da ação diabólica é a quebra da unidade, pois havia sido um dos DOZE!

A frase de Jesus ao discípulo, “o que queres fazer, faze-o depressa”, nada tem de algo no sentido de um convite a prática do mal ou mesmo uma indução à traição. Trata-se, isso sim, uma última palavra de um amigo desanimado, como se tivesse falado: - “Se queres mesmo fazer, pois então faça-o de uma vez”. Nada mais posso esperar de ti!
Talvez a intenção do Evangelista tenha uma visão mais ampla e transcendente do que parece, pelas simples palavras registradas. Sem dúvida nos dá a certeza de que a iniciativa do primeiro ato da paixão, veio de Jesus mesmo. Santo Agostinho lê, neste texto algo extraordinário: “Se Cristo não tivesse entregue-se, ninguém poderia entrega-lo”!

Nenhum dos discipulos, nem o próprio discípulo que Jesus amava, nem Simão Pedro entenderam a palavra “obscura” que Jesus dirigiu a Judas.
“Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite ..

Assim que participa da comunhão na ceia, sai imediatamente, na escuridão!

O discípulo que acabara de enganar Jesus tem seu coração penetrado por Satanás. Deixa de fazer parte dos Doze, rompe a comunhão, entrega-se ao jugo de Satanás. Não pertence mais ao grupo. Entra nas trevas, mergulha no caos!
Fica explícita a presença do reinado das trevas.

Entretanto, eu estava todos os dias convosco no templo, e não estendestes as mãos contra mim; mas esta é a vossa hora e o poder das trevas”. (Lc s22, 53).

Jesus, a luz do mundo, prestes a desaparecer.

“Enquanto for dia, cumpre-me terminar as obras daquele que me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar.” (Jo 9, 4).

“Respondeu-lhes Jesus: - Ainda por pouco tempo a luz estará em vosso meio. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos surpreendam; e quem caminha nas trevas não sabe para onde vai”. (Jo 12, 35).

Apesar de tudo, seria realizado o plano de Deus! A Palavra de Deus, proferidas por Jesus iluminará todos os discípulos de todos os tempos, até o fim dos séculos!

“O Verbo era a verdadeira luz  que, vindo ao mundo, ilumina todo homem”!